Fábio Dias
26/08/2024
Garça 

Recordar é Viver: "O dia que Sílvio Santos parou Garça"

Por Wanderley `Tico´ Cassolla

Tem uma máxima no futebol, de autoria do ex-jogador Dario José dos Santos, que diz: “Só três coisas param no ar: helicóptero, beija-flor e Dadá Maravilha”. Dario foi um grande goleador entre os anos de 1966 e 1986, o quarto maior artilheiro da história futebol brasileiro, com 926 gols. Sem falar que fez parte da memorável Seleção Brasileira, tricampeã mundial, no México, em 1970. Mas parar uma cidade só teve uma pessoa: Senor Abravanel, ou simplesmente Silvio Santos, o gênio da televisão brasileira, que faleceu no último dia 17 de agosto. Pra mim, Silvio Santos foi o “Pelé da televisão brasileira”. Aquela pessoa que só aparece de 100 em 100 anos, ou até mesmo em 200 anos. Seus programas aos domingos, sempre recheados de atrações, faziam parte de todos os lares. Mas teve um programa em especial: “Cidade x Cidade”, que parava as cidades interioranas, literalmente. O programa começou no ano de 1968, na extinta TV Tupi, Canal 4, apresentado nas noites de sextas-feiras, pontualmente às 21 horas. Tinha a duração de aproximadamente 3, 4 horas. As cidades disputavam 10 provas, a vencedora ganhava uma ambulância e uma certa quantia em dinheiro, fruto de arrecadação dos moradores. No flagrante as cidades de Araraquara e São José do Rio Preto se enfrentando no programa.

No dia 7 de março de 1969 foi a vez de Silvio Santos parar a cidade de Garça. A disputa foi contra Passos, de Minas Gerais. Contando com a colaboração do palmeirense Valcir, dedicado servidor do Museu Municipal, tivemos acesso ao exemplar do Jornal “Comarca de Garça”, que retratou aquela façanha. Garça fez pra lá de bonito. Esteve impecável, vencendo a mineira Passos e trazendo uma ambulância e NCr$-20.240,00 (vinte milhões de cruzeiros novos em moeda da época) e mais de 1 milhão da produção do programa.

Vamos, a seguir, recordar as 10 provas e a vitoriosa turma que representou nossa cidade.

1) Trazer o principal orador do Rotary Clube

      - Jathyr Mafud, que fez uma brilhante oratória sobre o espírito rotariano.

 2) Levar um cantor ou cantora:

     - Mable Pyles Ribeiro, cantou a música “Apêlo”, mas perdeu para a música “Viola Enluarada", de Passos.

 3) Um jogador para disputar uma partida de bilhar gol/snooker:

      - Zezo, que foi impecável, vencendo por 4 a 1.

  4) Um advogado que já tenha ganho ou perdido um grande causa:

       - Dr. Delfim Augusto de Faria, que relatou dois casos: da morte de um conhecido esportista e a causa sobre número de cafeeiros de uma fazenda. O desfecho deste caso modificou a jurisprudência até então seguida pelos tribunais do Estado e da União;

   5) Uma tarefa de livre escolha do locutor:

        - Escolhida pelo Nilson Bastos, a família circense “Robatini”, levou 18 membros e animais adestrados e venceu o então famoso Ugo Orlandi, que tinha transplantado o coração pelo Dr. Zerbini, uma novidade na época.

   6) Melhor artilheiro e melhor goleiro para uma disputa de pênaltis:

        - Silvio “Goiano” Peres e Belmiro goleiro. O Goiano marcou 3 gols e Belmiro defendeu uma cobrança. Uma vitória incontestável.

    7)  Três jovens rapazes em trajes de danças `passeio´ e `esporte´ e um casal para dançar “iê, iê, iê”:

           - Tereza Brandão e Osmar Malavasi (trajes passeios), ganharam no desfile, mas perderam ao dançar um bolero. Geraldo Santos Castro Filho e Creuza Miralla Santos (trajes esportes, dançaram iê, iê, iê). Paulo Roberto de Oliveira e Nanci Guanaes, que venceram no desfile e ao dançar uma romântica valsa.            

    8) Um touro de exposição e seus 5 principais troféus:

         - Garça levou o campeão “Americano”, raça Santa Gertrudes, do plantel da família Quartim Barbosa, que venceu o animal de Passos.

    9) Envelopes contendo notas de 10 cruzeiros novos:

        Vitória de Passos que levou 202.400 envelopes contra 99.520 de Garça.

  10) Uma jovem para o jogo de palavras:

       - Maria Lucia Ginde, que empatou em 8 a 8, decretando a vitória de Garça, por 15 a 13. Neste momento, a cidade de Garça, que estava completamente parada, todos vidrados numa tela de televisão ainda em preto e branco, “estourou” em alegria e contentamento. As ruas, como num passe de mágica, voltaram a ficar movimentadas. Fogos espocaram nos ares e até mesmo uma passeata foi organizada a 1 hora com direito a banda e tudo mais. Era a alegria contagiante dos moradores que vinha à tona. No sábado e dias seguintes o comentário foi um só: A vitória consagradora de Garça mostrada para todo o País. 

Veja no flagrante a manchete do Jornal Comarca de Garça.

 

NILSON x SILVIO 


O radialista Nilson Bastos Bento (foto) foi o apresentador das atrações garcenses no programa. E como sempre, o palmeirense Nilson Bastos, com aquele vozeirão inconfundível foi um show à parte. Demonstrando competência e brilhantismo, colaborou sobremaneira para a nossa vitória. Através do `zap´ conversamos com o Nilson Bastos, que até hoje recorda, emocionado, daquele dia: “Com certeza foi um dos maiores momentos que vivenciei nos microfones".

A participação de “nossa querida e adorada cidade de Garça”, foi um acontecimento histórico. Sem medo de errar, foi a maior divulgação já feita da cidade. A TV Tupi, Canal 4 era o que depois passou a ser a TV Globo, líder de audiência por todo o Brasil. O programa foi apresentado ao vivo, ficamos cerca de 4 horas e meia ao lado do Silvio Santos no palco da TV, no bairro do Sumaré, numa plateia com 100 garcenses, vibrando e batendo palmas a cada prova. Vencemos a cidade opositora, Passos/MG, e ainda fomos contemplados com uma ambulância para a Santa Casa. Garça “A Terra do Café”, ficou mais conhecida nacionalmente. Tudo isto graças ao Silvio Santos, um verdadeiro ícone da televisão brasileira. Deixou um legado de grandes feitos, na área de sua atuação profissional.

Devo ao Silvio Santos a minha afirmação como profissional de rádio. “Cidade contra Cidade” definiu tudo para mim. Vá em paz, incomparável e insubstituível mestre da comunicação”. 


REPERCUSSÃO DA COLUNA


Como sempre, as postagens de Tico Cassolla provocam agradáveis repercussões. Não seria diferente ao lembrar “o dia que Garça parou:

“Gratidão a você, querido amigo Tico Cassola, por rememorar a inesquecível participação da nossa Garça no “Cidade contra Cidade”. Ao mesmo tempo, reverenciar em nome dos garcenses à memória de Sílvio Santos, cuja passagem emocionou e entristeceu os brasileiros. Muitos poderão indagar, mas, e as fotos? Não temos. Como na canção do Noel… “sem retrato e sem bilhete, sem luar, sem violão”. Vale ressaltar a importância do nosso jornal impresso “Comarca de Garça”, que - apesar de extinto - destinou o arquivo de suas publicações ao Museu Histórico e Pedagógico de Garça.

Reafirmo, foi a maior divulgação da Cidade e sua gente em toda a sua história. Enalteço o trabalho de todos que se envolveram nesse evento. Fica, enfim, a lembrança, doce lembrança, e como cantava Sílvio: “do mundo não se leva nada, vamos sorrir e cantar””, agradeceu Nilson Bento nas redes sociais.

“Me lembro perfeitamente deste dia. Ao final do programa, a cidade explodiu em buzinas e fogos. Parecia festa comemorativa a uma Copa do Mundo. Garça nunca saiu do meu pensamento e do meu coração”, recordou Paulo Roberto Fonseca Prado.

Paulo Campos salientou a beleza da matéria e parabenizou Tico Cassolla, enquanto João Carlos Mendonça Gomes comentou que Garça foi muito bem representada. Ele parabenizou a todos os envolvidos, bela vitória.

“Eu era um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones. Me lembro como se fosse hoje. Vencemos e Garça estava no mapa pra todo o Brasil ver. Os anos se passaram e eu fui convidado por um amigo (anão) que soube que eu estava atuando no teatro e me convidou a participar do programa do Silvio Santos no quadro "Topa Tudo Por Dinheiro". Eu havia estudado interno com ele em Rio Claro e ele era o responsável pelas traduções e dublagens dos pragramas estrangeiros. Só de ouvir a voz do Silvio no corredor antes da prova, já fez minhas pernas tremerem; e olha que eu já tinha estado com muita gente importante heim! Venci a prova e me lembro com carinho desse evento. Não foi fácil!! Ele falava no meu "ponto" o tempo todo, o que me deixava ainda mais nervoso. Kkkk...”, confidenciou Caique Arantes.

“Parabéns Nilson Bastos Bento!! Sua contribuição ao rádio garcense ficará na história. E por falar nisso, acho que cabe bem a vc relembrar muitas dessas histórias e estórias pra gente num podcast!! Abração!! 

O nome do meu amigo era Jeffrey Jackson”, completou Caique Arantes.

Enquanto Maria Luiz Bento de Olivieera, afirma ter sido uma 

competição inesquecível para nossa cidade, Benedito Saenz Artioli agradece a Tico Cassolla a  chance recebida de poder conhecer Garça. 

“Obrigada Wanderley Tico Cassolla por compartilhar conosco esse lindo acontecimento, realmente “Recordar é Viver”. Abraço”, postou Saarah Yamashita.

Segundo Anezio Bonfim, foi um dia memorável para nossa cidade. 


Comentários

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