Lucas Dias
14/09/2018
Região 

Jovem que vivia com rapaz desde os 10 anos e estava em cárcere com os filhos era tratada como escrava sexual, diz polícia

Vítima de 18 anos contou que era agredida constantemente e obrigada a ter relações sexuais com o agressor. O rapaz, de 25 anos, está preso preventivamente em Marília

A jovem de 18 anos que era mantida em cárcere privado pelo “marido” em Marília, juntamente com os dois filhos, de 1 ano e sete meses e 2 anos e 7 meses, contou à polícia que os três eram agredidos constantemente e que ela era ameaçada e obrigada a manter relações sexuais com o agressor.

“A vítima relatou que tanto ela como as crianças sofriam agressões físicas e psicológicas. Ela também relata agressões sexuais e diz que era obrigada a manter relações sexuais com o agressor”, explicou a delegada Viviane Sponchiado.

O caso foi descoberto pela polícia na terça-feira (11), após uma denúncia anônima. Os policiais foram até o endereço na Vila Hípica e encontraram a jovem e as crianças trancadas na casa. Havia uma corrente no portão presa com cadeado, virado para o lado de fora.

Ela contou que saiu de casa com apenas 10 anos para viver junto com o rapaz, na época com 17, mas passou a sofrer agressões e privação da liberdade após o nascimento dos filhos.

A jovem disse aos policiais que não tinha a chave e não podia sair de casa sem a companhia do homem. Segundo a delegada responsável pelo caso, a jovem e as crianças tinham sinais de agressão e a jovem estava bastante assustada.

A delegada conta ainda que a jovem pediu ajuda.

“A vítima estava muito abalada, para ela essa era a única vida que ela conhecia há anos. Ela reconhece a dificuldade que era sair daquela situação, sendo que ela não tinha renda, e nem para onde ir com dois filhos pequenos, mas quando nós chegamos ali, ela disse que precisava sair dali e que não aguentava mais ser agredida”, completa a delegada.

Ainda de acordo com a polícia, a vítima disse à polícia que "casou" com Valdecir há 8 anos, quando saiu de casa aos 10 anos para viver com ele. Ela relatou à polícia que as duas famílias deram o consentimento para o "casamento".

"Ela fala que foi um comum acordo entre as duas famílias que os dois se amasiassem", diz a delegada.

A mãe da jovem também foi ouvida e disse não saber que a filha estava em situação de cárcere. Ela confirmou que a jovem saiu de casa para viver com o rapaz com apenas 10 anos e que as duas tinham pouco contato.

O Código Civil prevê casamento de jovens entre 16 e 18 anos com autorização dos pais. Já o artigo 1.520 abre uma brecha para casamentos com menores de 16 anos. “Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil, para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal, ou em caso de gravidez”.

No entanto, no caso da jovem, tudo foi feito de maneira informal, acordado somente entre as famílias.

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Com 15 anos jovem passou a ficar trancada


A jovem conta que o companheiro começou a demonstrar comportamento agressivo três meses depois que passaram a morar juntos. Mas foi quando o primeiro filho nasceu que ela passou a ser impedida de sair de casa.

“Com 15 anos ele começou a me proibir de sair de casa. Não tinha nem como eu sair, porque ele trancava tudo. Nós moramos em umas cinco casas alugadas, e ele trancava todas."

Ela lembra que saiu pela última vez de casa quando foi à maternidade para ter o segundo filho. Dali em diante, passou a viver trancada. As crianças nunca tomaram vacina e, quando ela ou os filhos ficavam doentes, era o marido quem saía para comprar remédios.

Além de viver presa em casa, a jovem relata que era ameaçada constantemente. “Ele chegava do trabalho já gritando comigo, com as crianças. Quando estava irritado, descontava na gente. Meus dois filhos vinham pro meu colo quando ele chegava e começavam a chorar. Não queriam mais descer. Choravam de medo durante a madrugada."

“Ele ameaçava, vivia com um facão. Ficou com uma arma um tempo, que ele usou pra bater na minha cabeça. Ele usava drogas e saía quebrando tudo. Voltava no dia seguinte, gastava todo o dinheiro e do jeito que ele deixava as coisas, tinha que ficar. Não podia mexer em nada.”

A vítima diz que não tinha quase nenhum contato com a família. “Minha tia veio me visitar uma vez, mas como estava tudo trancado, teve que jogar umas coisas que tinha trazido por cima do muro.”

Durante a investigação que apura a suspeita de estupro de vulnerável, a polícia descobriu que a mãe da jovem e o pai do agressor têm um relacionamento e moram juntos. Segundo a delegada, os dois disseram que o relacionamento é recente.

“Nós agora estamos investigando esse novo contexto. Em um primeiro momento, quando ambos foram ouvidos no dia dos fatos, eles omitiram essa informação. Mas, agora, vamos investigar, ouvir outra testemunhas para tentar descobrir quando, de fato, esse relacionamento começou. Se é anterior à época em que a vítima saiu de casa com 10 anos ou se realmente é algo recente.”

A polícia também investiga se o pai da jovem era vivo na época que a menina saiu de casa, e se ele e a mãe moravam juntos ou se já estavam divorciados.


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