Lucas Dias
11/09/2018
Variedades 

8ª Radiografia do Endividamento das Famílias Brasileiras – FECOMERCIOSP

Alta na renda das famílias eleva confiança do consumidor e faz número de famílias endividadas aumentar no País em 2017. Estudo da FecomercioSP mostra que aumento dos rendimentos interrompeu ciclo recessivo do consumo; inadimplência também teve alta

Após o encolhimento da renda e do total de rendimentos ao longo da recessão econômica que atingiu o País entre os anos de 2014 e 2016, uma reação foi notada no ano passado. Em dezembro de 2017, o rendimento total das famílias brasileiras atingiu R$ 277,9 bilhões no mês, alta real de 5,5% em relação aos R$ 263,3 bilhões apurados em dezembro de 2015, ou seja, um aumento de R$ 14,6 bilhões. Considerando a elevação de 1,6% no número total de famílias nesse mesmo período, a renda média mensal familiar passou de R$ 4.250,37 para R$ 4.416,95, elevação de 3,9%, portanto.
Os dados compõem a oitava edição da Radiografia do Endividamento das Famílias Brasileiras, realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). O estudo avalia os principais aspectos, dimensões e efeitos da política de crédito no Brasil sobre as famílias entre 2015 e 2017, período transitório, com encerramento da crise econômica (2014/2016) e início de um processo de recuperação em meio às incertezas políticas e econômicas. A análise foi feita com base em informações do Banco Central do Brasil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Segundo a assessoria econômica da FecomercioSP, a combinação de três fatores explica essa recomposição da renda. O primeiro deles é a forte queda da inflação no período, que passou de 10,67% em 2015 para 2,95% em 2017, produzindo o chamado efeito-renda, que ocorre quando os salários são reajustados por uma taxa passada muito acima da inflação corrente. O segundo é o avanço na taxa de ocupação, ainda que de forma bastante gradual e concentrada no mercado informal, após um período de elevação abrupta do desemprego e, finalmente, o aumento na massa de rendimentos dos aposentados, pela combinação da elevação dos inativos e do aumento do benefício médio.
Comportamento semelhante foi observado no conjunto das capitais brasileiras – foco do estudo – embora de forma menos intensa, já que a massa de rendimentos das famílias cresceu 4,8% e a renda média mensal avançou 3,2% entre dezembro de 2015 e o final de 2017, enquanto o número de famílias também se elevou em 1,6%.
Essa alta na renda das famílias foi decisiva para a mudança na trajetória do ritmo das atividades internas, permitindo a interrupção do ciclo recessivo do consumo iniciado em 2014 e alavancando o nível de confiança das famílias, fator essencial para a retomada que se observou nas operações de crédito no país. Assim, a proporção de famílias endividadas no conjunto das capitais brasileiras passou de 59% em dezembro de 2016 para 62,2% no final de 2017. Isso significa um aumento de 540 mil no número de famílias com algum tipo de dívida, alcançando 9,7 milhões em dezembro do ano passado.
A parcela de famílias com alguma conta em atraso também subiu nesse período, de 24% no fim de 2016 para 25,7% em dezembro de 2017. Entretanto, a elevação da renda no período permitiu que, mesmo com essas altas no endividamento e na inadimplência, o comprometimento mensal da renda com dívidas se mantivesse estável entre 2016 e 2017, na casa de 30%. Esse número permaneceu estatisticamente estável pelo sétimo ano consecutivo, aponta o estudo da FecomercioSP.
Ainda de acordo com a Entidade, a manutenção do patamar conservador de comprometimento da renda com dívidas fez com que o nível de inadimplência permanecesse em patamares aceitáveis.
 


Juros
A recessão iniciada em 2014 produziu uma queda acumulada de 18% nas vendas varejistas no Brasil, fazendo o setor retroceder aos níveis de faturamento de cinco anos atrás. Independente da intenção de consumo das famílias, a recuperação do setor deverá demandar um longo tempo, dependendo essencialmente das condições futuras da renda, do emprego, da inflação e do crédito, avalia a Federação.
O nível de acessibilidade ao crédito tem importante papel nesse processo e passa necessariamente pela prática de um padrão de taxa de juros bem menor do que o atual. Os custos dos empréstimos no Brasil são cronicamente elevados e isso é decisivo para impedir esse objetivo de torná-lo um instrumento cada vez mais importante para o crescimento econômico interno. Os juros altos elevam os custos das dívidas e o valor das parcelas.
Um estudo realizado recentemente pela Federação apontou que o valor dos juros pagos pelas famílias no Brasil em 2017 chegou a R$ 355 bilhões, valor equivalente a quase 11% de toda a sua renda anual. Assim, o dinheiro que seria destinado ao consumo passa a ser direcionado ao setor financeiro que faz a intermediação legítima de recursos entre poupadores e tomadores. Como o governo é o maior tomador de dinheiro, os poucos recursos que sobram são muito disputados. Essa disputa faz com que as taxas médias de juros para os consumidores atinjam patamares inacessíveis à maioria da população.
Dessa forma, é preciso que o governo produza uma administração adequada das contas públicas, por meio de um projeto de redimensionamento de seus gastos que permita reduzir sua pressão no mercado de crédito e, por consequência, reduzir o custo do dinheiro.
 
Sobre a FecomercioSP
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) é a principal entidade sindical paulista dos setores de comércio e serviços. Congrega 137 sindicatos patronais e administra, no Estado, o Serviço Social do Comércio (Sesc) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). A Entidade representa um segmento da economia que mobiliza mais de 1,8 milhão de atividades empresariais de todos os portes. Esse universo responde por cerca de 30% do PIB paulista – e quase 10% do PIB brasileiro – gerando em torno de 10 milhões de empregos.

 


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