Depressão: as causas, os sintomas, as consequências e os tratamentos
Psiquiatra com especialidade no assunto explica tudo
Nos últimos tempos, algumas notícias de morte por suicídio têm feito à reflexão sobre o que, afinal, leva uma pessoa a tomar essa medida extrema para dar fim à própria vida.
Recentemente, dois casos surpreenderam ainda mais: a morte de Fausto Fanti, do grupo "Hermes & Renato", e, na última semana, do ator Robbin Willians, protagonista da memorável comédia "Uma babá quase perfeita".
Para ambos os casos, os relatos de pessoas próximas confirmam sintomas de depressão nas vítimas. Mas o que indica que eles sofriam da doença?
Segundo o psiquiatra Agilberto Calaça Neves, os sintomas de depressão são comuns em todos os níveis da doença e podem chegar àquele que é o mais grave de todos: quando o indivíduo não se sente mais a contento de sua própria vida.
"Podemos dizer que a depressão é um transtorno do humor, que acarreta uma alteração total do funcionamento da pessoa, afetando de uma maneira que o sujeito fica, praticamente, invalidado", explica o especialista.
Quando se fala de humor deprimido, aponta Agilberto, observa-se a irritabilidade, a perda do interesse por qualquer coisa e por prazeres que a pessoa tinha antes de adoecer ("Se gostava de futebol, já não se interessa mais", exemplifica). O indivíduo fica lento nas reações, se distrai com facilidade, desenvolve problemas de memória e ruminação de ideias (pensamento negativo que retorna à sua mente excessivamente).
"A culpa, no entanto, é um fator determinante para diferenciar a depressão de uma simples tristeza", ressalta o psiquiatra. "O indivíduo se culpa por tudo o que acontece à sua volta. 'Meus pais se sacrificaram tanto por mim que morreram mais cedo', ele pensa", explica. "Quando atribui a um terceiro o que aconteceu, e não a si mesmo, já é uma coisa muito boa", diz o especialista.
O luto, no entanto, é uma depressão considerada normal, ressalta ele. "Mas tem tempo determinado para acabar e ao longo desse tempo vai diminuindo. Quando não diminui, ao contrário, aumenta, é o que chamamos de luto patológico", acrescenta.
Hereditariedade está entre as causas da doença
O processo depressivo é multicausal, aponta o psiquiatra. Mas, se alguém que apresenta os sintomas citados acima possui casos de depressão na família, é preciso ter atenção redobrada.
"Não existe um único fator que possa causar a depressão. É uma combinação de fatores, como a hereditariedade e a psicodinâmica (forças psicológicas que agem sobre o comportamento humano)", lista.
Mas por que algumas pessoas resistem tanto a uma dor, como a separação, a perda de uma pessoa querida ou a rejeição, e outras sucumbem a ela?
Agilberto lembra que o que é trauma para um, não é o trauma para outro. "O que é frustração para uma pessoa, não é para outra. Cada indivíduo começa a desenvolver sua própria defesa, ao longo da vida. Tem pessoas que têm capacidade de resiliência (capacidade do indivíduo de lidar com problemas)", explica.
Aqueles que usam como mecanismo de defesa o isolamento, e não a sublimação, alerta o psiquiatra, vão adoecer mais de distúrbios psíquicos.
Mas como esses mecanismos de defesa são desenvolvidos ao longo da vida e tão distintamente entre as pessoas, mesmo que para situações semelhantes, a ciência ainda não tem uma resposta exata. O que se sabe é que existem tratamentos para vencer a doença.
'Quem trabalha com humor, às vezes, quer vencer a doença', diz psiquiatra
O sociólogo brasileiro Gilberto Freire, lembra Agilberto, dizia que o povo brasileiro é um povo deprimido, porque precisa de muitas festas, muito Carnaval, e é como se isso fosse uma reação a um estado, primariamente, de depressão. "Quem lida com o humor, às vezes quer vencer. Ele quer superar", fala o especialista.
A depressão e a condição oposta, muitas vezes, ocorrem no mesmo indivíduo.
"Deprimido ou maníaco, subentende-se que a autoestima dessa pessoa não foi desenvolvida. Ela não desenvolve uma boa imagem de si mesmo. Isso pode fazer com que, diante de uma frustração que uma pessoa qualquer suporta, ela sucumba", diz Agilberto.
O maníaco, explica, é o oposto do deprimido."São autosuficientes, querem ajudar a todos, consideram-se semideuses. Podemos supor que se dedicar ao humor é uma reação ao estado primário", ressalta Agilberto.
Quando tratar e a quem recorrer
Às vezes, o paciente não se dá conta e acha que pode superar a doença sozinho. "Mas os sintomas, que ainda podem estar mascarados em sintomas orgânicos (perda do apetite, fraqueza, dores de cabeça intensas), podem representar o próprio pedido de ajuda", alerta o especialista.
Um caso que realmente chama atenção, segundo Agilberto, são os sintomas melancólicos, logo ao acordar. "O indivíduo vai se esforçar muito para levantar, perde a vontade do asseio. Esse quadro é grave e ele deve ser levado, imediatamente, a um psiquiatra", avisa.
Agilberto explica que esses distúrbios psicológicos são doenças cíclicas, acontecem por períodos. A pessoa pode ter um e nunca mais voltar a sofrer uma crise. "Mas, para quem tem mais de dois episósios, a tendência é ter cada vez mais", ressalta.
Um ciclo depressivo, conta o psiquiatra, dura seis meses, com ou sem tratamento. "Porém, a consequência da falta de tratamento pode ser o suicidio", diz. Psicofármacos e psicoterapia são os tratamentos para casos extremos. "A psicoterapia, sozinha, é um processo lento. Se o paciente estiver em uma situação extrema, é preciso combinar os tratamentos, ou, durante o processo, o pior pode vir a acontecer", avalia.
GNT
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